Project Description

Diferença entre tristeza e depressão

Depressão não é sinônimo de tristeza. Ter momentos de tristeza faz parte da experiência humana, no entanto a depressão é uma doença que provoca um grande impacto na vida da pessoa. Quem está com depressão percebe que “alguma coisa” mudou, está diferente, mas pode demorar a dar-se conta que é uma doença que precisa de atendimento; costuma atribuir os sintomas a um momento desagradável pelo qual esteja passando, por este motivo pode haver demora para o início do tratamento, o que causa prejuízo na sua qualidade de vida. Quando os sintomas de depressão ocorrem logo após (dentro de 2 meses) a perda de alguém significativo e melhoram dentro deste período não caracterizam a depressão e sim o Luto (a não ser que ocorra um grande prejuízo no “funcionamento” da pessoa, um sentimento de desvalia intenso, ideias de suicídio, sintomas psicóticos (alucinações, delírios) ou uma lentificação psicomotora). Ao contrário do que se possa pensar, a depressão não é um problema dos dias atuais, encontramos relatos de depressão em textos muito antigos, por exemplo, na história do rei Saul, no Antigo Testamento, existe sintomas de depressão cujo “tratamento” era feito através da música de harpa tocada por Davi. Na Ilíada, há o relato do suicídio de Ajax. A melancolia (do grego melanos – negro e kholé – bílis) era vista como uma depressão causada pelo excesso de “bile negra” e foi uma preocupação para os médicos da antiguidade, como Hipócrates (400 A.C.), Galeno (129- 199) e Maimônides (séc. XII).

Neste texto usaremos a palavra depressão, para descrever o Episódio Depressivo Maior. Uma pessoa com depressão apresenta humor deprimido e diminuição do prazer ou interesse por quase todas as atividades. Estas características devem estar presentes por um período mínimo de 2 semanas. Além destes sintomas a pessoa tem ao menos 4 dos seguintes:

Alterações no apetite ou peso: algumas pessoas ficam com pouco apetite, o que leva a uma perda de peso, porém alguns podem apresentar avidez por algum tipo específico de alimento como os carboidratos e, ao contrário, terem um aumento de peso;

Sono: o mais comum é a insônia, que pode ser inicial (dificuldade para pegar no sono); intermediária (acorda no meio da noite e tem dificuldade para dormir novamente) ou terminal (acorda muito antes da hora). Algumas pessoas com depressão apresentam hipersonia que é um aumento do sono;

Atividade psicomotora: a pessoa apresenta-se agitada, ou ao contrário, lentificada; pode haver diminuição da energia; cansaço e/ou fadiga;

Sentimentos de desvalia ou culpa: autoavaliação negativa, tende a revisar erros do passado;

Dificuldades para pensar, concentrar-se ou tomar decisões: algumas vezes a pessoa apresenta dificuldade de memória;

Pensamentos recorrentes sobre morte ou ideação suicida, planos ou tentativas de suicídio; choro também pode estar presente;

Não é necessário que estes sintomas estejam presentes em 100% do tempo, mas devem ocorrer na maior parte do dia e, em praticamente todos os dias das últimas duas semanas pelo menos.

Durante o episódio de depressão a pessoa apresenta um prejuízo no funcionamento social, profissional e em outras áreas da vida. Pode ocorrer prejuízo na vida sexual, por diminuição do interesse em sexo. Em alguns casos o sujeito fica mais irritado do que o seu normal. Algumas pessoas simplesmente não conseguem trabalhar, estudar, enfim, manter sua rotina, outros indivíduos continuam realizando suas tarefas, mas com um esforço muito maior do que o anteriormente necessário. As alterações são percebidas por familiares e amigos, eles notam que a pessoa mudou, que não é mais a mesma…

“Ele não se ajuda”

Isto é o que a família e amigos podem pensar sobre alguém que está deprimido. É natural e bom que o deprimido seja estimulado a “sair desta”, o problema é que ele mais do que ninguém quer sair, mas em alguns casos ele simplesmente não consegue, o que não é nada mais do que um dos sintomas da depressão. Parece que “ele não quer melhorar”. Estas tentativas de estímulo e ausência de resultados acabam reforçando a desesperança e a baixa autoestima próprias do indivíduo com depressão. Também é preciso que o paciente e a família entendam que a depressão não é sinal de fraqueza, de falta de pensamentos positivos ou uma condição que possa ser superada apenas pela força de vontade ou com esforço, ela é uma condição que exige tratamento adequado.

Para o diagnóstico de depressão é necessário que os sintomas não sejam decorrentes do efeito de uma droga, medicamento ou doença física. Algumas doenças podem ocasionar sintomas depressivos, por exemplo a Esclerose Múltipla, o Acidente Vascular Encefálico e o Hipotireoidismo.

Entre as pessoas com algumas condições médicas gerais, como Diabetes, Infarto do Miocárdio, Carcinomas, Acidente Vascular Encefálico, cerca de 20 – 25% desenvolvem Transtorno Depressivo Maior durante o curso de sua patologia.

Por este motivo, é bem provável que seu médico solicite exames laboratoriais para afastar algumas patologias que podem estar “disfarçadas” de depressão. Caso seja detectada alguma outra condição além dos sintomas depressivos é necessário que o tratamento seja instituído e, algumas vezes, o tratamento da depressão é realizado juntamente com o do outro quadro clínico.

Química da depressão

Entre os neurônios existem espaços chamados sinapses. Na sinapse algumas substâncias chamadas neurotransmissores atuam levando informações de um neurônio a outro. A norepinefrina, serotonina e dopamina são alguns destes mensageiros químicos envolvidos no quadro de depressão. Existe uma alteração em alguns nos neurotransmissores. Na clínica não são realizados exames para avaliar os níveis de neurotransmissores. Os medicamentos antidepressivos trabalham aumentando a atividade destas substâncias de várias formas, por exemplo, diminuindo a velocidade que são retirados desta fenda sináptica, ficando assim, mais tempo disponíveis.

Quantas pessoas são afetadas?

Ao longo da vida, cerca de 18% da pessoas vão ter um episódio de depressão. Os Episódios Depressivos apresentam uma frequência duas vezes maior em mulheres (10-25%) do que em homens (5-12%).

Qual é a evolução natural da depressão?

A depressão é uma doença recorrente, isto é, quem já teve um episódio tem uma chance maior de apresentá-lo uma segunda vez, estas pessoas apresentam um risco maior do que a população em geral.

Como é feito o diagnóstico?

Conforme já foi dito, na prática clínica não são realizados exames laboratoriais ou de imagem para o diagnóstico de depressão. Os psiquiatras e psicólogos usam os critérios da American Psychiatric Association (APA 2014) DSM -V ou da Organização Mundial de Saúde (OMS) para fazer o diagnóstico de um episódio depressivo. Abaixo estão os critérios da APA:


Critérios para Episódio Depressivo Maior: 

A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de 2 semanas e representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda do interesse ou prazer. Nota: Não incluir sintomas nitidamente devidos a uma condição médica.

(1) Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, indicado por relato subjetivo (por ex., sente-se triste ou vazio, sem esperança) ou observação feita por outras pessoas (por ex., parece choroso). Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável.

(2) Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicado por relato subjetivo ou observação feita por outras pessoas.)

(3) Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (p. ex., uma alteração de mais de 5% do peso corporal em 1 mês), ou redução ou aumento do apetite quase todos os dias. Nota: Em crianças, considerar o insucesso em obter o ganho de peso esperado.

(4) Insônia ou hipersonia quase todos os dias.

(5) Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por outras pessoas, não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento.)

(6) Fadiga ou perda de energia quase todos os dias.

(7) Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que pode ser delirante), quase todos os dias (não meramente autorrecriminação ou culpa por estar doente.)

(8) Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outros.)

(9) Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, uma tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio.

B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.

C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica.

D. A ocorrência do episódio depressivo maior não é mais bem explicada por trantorno esquizoafetivo, esquizofrenia, transtorno esquizofreniforme, transtorno delirante, outro transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico especificado ou transtorno da esquizofrenia e outro transtorno psicótico não especificado.

E. Nunca houve um episódio maníaco ou um episódio hipomaníaco. Nota: Essa exclusão não se aplica se todos os episódios do tipo maníaco ou do tipo hipomaníaco são induzidos por substância ou são atribuíveis aos efeitos psicológicos de outra condição médica.


Um dos tratamentos preconizados é a Terapia Cognitivo-comportamental, que pode ser utilizada combinada com psicofármacos, ou como tratamento único nos casos leves.

 

Referências:

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Referência Rápida aos critérios diagnósticos do DSM-5. Porto Alegre: ARTMED; 2014.

KAPLAN H, SADOCK B, GREBB S S.(1997). In: Kaplan H, Sadock B, Grebb S. Compêndio de Psiquiatria. 7a ed. Porto Alegre: Artes Médicas.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10: Descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas. 1993.

Se você chegou até aqui é porque você sabe que precisa de um suporte.

Agende sua consulta agora