Project Description
Todos temos sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade. O que diferencia os sujeitos que apresentam o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é a intensidade destes sintomas e o comprometimento que estes causam no funcionamento profissional, acadêmico e nas relações interpessoais. Segundo a American Psychiatric Association (APA, 2014) o TDAH apresenta como característica principal um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade – impulsividade, mais frequente e grave do que o tipicamente observado em indivíduos no mesmo nível de desenvolvimento (APA, 2014), isto é, trata-se de um diagnóstico dimensional, onde o número de sintomas apresentados deve ser maior do que o encontrado na população geral (Mattos e cols., 2006).
Embora algumas pessoas que ainda resistem às evidências científicas digam que o TDAH é um “diagnóstico da moda”, esta afirmação não se confirma, pois o quadro clínico na infância foi primeiramente descrito em 1902, pelo pediatra George Still. Desde então houve várias modificações na denominação deste quadro, primeiramente foi conhecido como “Lesão cerebral mínima”, após “Disfunção cerebral mínima” e em 1980 foi descrito como Transtorno de Déficit de Atenção (Rhode e Halpern, 2004). Além do aspecto histórico que vai contra o argumento que o TDAH é um evento dos últimos tempos, um grupo de estudo formado pela American Medical Association, cujo objetivo foi examinar as evidências existentes relativas a este quadro clínico concluiu que o TDAH é uma das desordens de saúde mais pesquisadas, tanto na psiquiatria, quanto na medicina em geral (Goldman e cols., 2006).
Por muito tempo a forma adulta do TDAH foi vista com ceticismo, e na versão atual do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) ainda está localizado no capítulo “Transtornos da Infância”, o que contribuiu para a visão que este fosse um diagnóstico restrito às crianças (Mattos e cols., 2006).
Na infância já havia sido estabelecido o quadro clínico, restava então o debate se esta condição permanecia ou não entre os adultos, uma vez que o os sintomas são menos floridos nesta faixa etária (não se espera adultos escalando muros, subindo em árvores, quebrando vidraças, etc.). Existe um declínio nos sintomas do TDAH entre os adultos, no entanto, eles ainda estão associados a um comprometimento clínico significativo (Biederman e Faraone, 2005).
É importante salientar que os sintomas em adultos apresentam características próprias, isto é, a hiperatividade pode ser encontrada como excesso de atividades ou trabalho (workaholics), envolvimento em várias atividades ao mesmo tempo, intolerância em atividades “calmas”, dificuldade para permanecer sentado muito tempo em um escritório ou sala de aula ou reunião, caso consiga ficar é com muito esforço e sensação interna de inquietação. A impulsividade aparece na forma de términos prematuros de relacionamentos e direção impulsiva ou problemas no trabalho. Os déficits atencionais aparecem nas tarefas que exigem organização e manutenção da atenção e algumas vezes são confundidos com “dificuldades de memória” (Mattos e cols., 2006), quando o problema não está na “função memória” propriamente dita e sim na “função atenção”,isto é, a pessoa distraiu-se com outro estímulo.
É possível que a pessoa tenha tido um bom desempenho escolar durante a infância e podem aparecer dificuldades na universidade que é mais exigente e com menor organização externa do que no Ensino Fundamental e Ensino Médio, desta forma a organização necessariamente tem que ser interna (sem o auxílio de professores, pais e aulas particulares que havia na infância). Os adultos com TDAH apresentam maiores índices de divórcio, acidentes de trânsito, troca de emprego, uso de álcool, tabaco, outras drogas e o jogo patológico, o que já está bem documentado na literatura científica (Kessler e cols., 2006; Okie, 2006; Biederman, Wilens, Mick, Milberger, Spencer e Faraone, 1995; Biederman e cols. 2006). Para evitar o impacto destas complicações é importante o tratamento precoce do TDAH.
Quantas pessoas são afetadas?
Não estamos falando de poucas pessoas, uma vez que o TDAH é a desordem neuropsiquiátrica mais comum entre as crianças, com uma prevalência estimada de 5,5 a 8,5%, sendo 6,9% a média entre os diversos estudos (ACP, 2000) com escolares. Estudos longitudinais apontam uma persistência do TDAH na vida adulta em 60-70% dos casos (Barkley, Fischer, Samllisch e Fletcher, 2002). Entre a população mundial de adultos, a prevalência do TDAH é estimada em torno de 4% (Kessler e cols., 2006).
Como é feito o diagnóstico?
Para o diagnóstico de TDAH em adultos é condição essencial que haja história de TDAH ou sintomas na infância, o que exige uma anamnese cuidadosa, às vezes entrevista com os familiares que podem dar informações mais precisas, verificar anotações escolares etc.
Existem algumas escalas que auxiliam no diagnóstico do TDAH, no entanto, salientamos que nenhum exame de imagem ou teste psicológico é fundamental e/ou necessário para o diagnóstico. Caso você tenha interesse preencha a Adult Self-Report Scale-ASRS-18 (Mattos, Segenreich, Saboya, Louzã, Dias e Romano, 2006), disponível no site da Associação Brasileira de Déficit de Atenção– ABDA e procure avaliação especializada, pois o diagnóstico é clínico.
Como dissemos anteriormente, o diagnóstico é clínico e os critérios do DSM-V são os seguintes:
Critérios diagnósticos do DSM-V para TDAH: A. Um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere no funcionamento e no desenvolvimento, conforme caracterizado por (1) e ou (2): 1. Desatenção: Seis ou mais dos seguintes sintomas persistem por pelo menos seis meses em um grau que é inconsistente com o nível do desenvolvimento e tem impacto negativo diretamente nas atividades sociais e acadêmicas/profissionais: A. Frequentemente não presta atenção em detalhes ou comete erro por descuido em tarefas escolares, no trabalho ou durante outras atividades (p. ex., negligencia ou deixa passar detalhes, o trabalho é impreciso). 2. Hiperatividade e impulsividade: Seis (ou mais) dos seguintes sintomas persistem por pelo menos seis meses em um grau que é inconsistente com o nível do desenvolvimento e têm impacto negativo diretamente nas atividades sociais e acadêmicas/profissionais. Nota: Os sintomas não são apenas uma manifestação de comportamento opositor, desafio, hostilidade ou dificuldade para compreender tarefas ou instruções. Para adolescentes mais velhos e adultos (17 anos ou mais), pelo menos cinco sintomas são necessários. A. Frequentemente remexe ou batuca as mão ou os pés ou se contorce na cadeira. B. Vários sintomas de desatenção ou hiperatividade-impulsividade estavam presentes antes dos 12 anos de idade.
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Subtipos:
As pessoas podem apresentar sintomas tanto de desatenção quanto de hiperatividade-impulsividade, mas alguns indivíduos têm predomínio de um ou outro padrão nos últimos seis meses.
- Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, Tipo Combinada.
- Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, Tipo Predominantemente Desatento.
- Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, Tipo Predominantemente Hiperativo-Impulsivo.
Qual é o tratamento?
Esta é uma condição que, embora possa apresentar importante comprometimento na vida do sujeito apresenta tratamento estabelecido.
É importante que você procure um médico ou psicólogo para fazer uma avaliação, caso receba o diagnóstico discuta com o profissional que o atende a melhor estratégia terapêutica para o seu caso.
Procure informações sérias sobre o TDAH em adultos, sugerimos:
Um dos tratamentos utilizados é a Terapia Cognitivo-comportamental.
Sugestão de leitura:
- Tendência à Distração – Hallowell, Edward e John J. Ratey.Rio de Janeiro, Rocco, 2000.
- Um Dia na Vida de um Adulto com TDAH – Vera Joffe. Lemos Editorial, 2005.
- No Mundo da Lua: Perguntas e respostas sobre Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade em crianças, adolescentes e adultos – Mattos, Paulo. São Paulo, Lemos Editorial, 2001.
Site:
Associação Brasileira de Déficit de Atenção tem um site com informações de alto valor.
Ter conhecimento sobre o que nos causa dificuldade já é parte da solução!
Referências:
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