Project Description

A ansiedade é uma emoção normal e muito importante para a nossa sobrevivência tanto individual quanto como espécie. Este sentimento faz parte da experiência humana, e funciona como um sinal de alerta que nos faz ficar atentos e nos prepara para lutar ou fugir em uma situação de perigo. O problema é quando a ansiedade ocorre sem um motivo real, isto é, sem que a nossa integridade física ou psíquica esteja em perigo, e é exatamente isto o que acontece em um Ataque de Pânico. Ansiedade e medo não são sinônimos, a diferença é que o medo é a resposta a uma ameaça conhecida, definida, enquanto a ansiedade é uma resposta a uma ameaça desconhecida, vaga.

O que é um Ataque de Pânico?

A palavra pânico vem do grego panikon que se refere ao pavor que o deus da mitologia grega Pã, causava ao aparecer, pois possuía uma aparência assustadora, com chifres e pés de bode, amedrontando os camponeses.
Um Ataque de Pânico pode ocorrer de forma inesperada (espontânea), isto é quando ocorre “vindo do nada”, mas podem ocorrer Ataques de Pânico ligados a situações específicas, embora sejam menos comuns. O Ataque de Pânico pode ser consequência de uma substância como cafeína, maconha ou cocaína. Algumas condições fisiológicas podem desencadear Ataques de Pânico tais como hipertireoidismo, feocromocitoma e hiperparatireoidismo. Os Ataques de Pânico podem ocorrer em outras patologias psiquiátricas, por exemplo, na Fobia Específica, Fobia Social, Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtorno de Estresse Pós-Traumático ou Transtorno de Ansiedade de Separação. A frequência e a gravidade dos ataques de pânico variam de pessoa para pessoa.
Segundo a American Psychiatric Association (APA, 2014), os critérios para Ataque de Pânico são os seguintes:

Critérios Diagnósticos para Ataque de Pânico

A. Ataques de pânico recorrentes e inesperados. Um ataque de pânico é um surto abrupto de medo intenso ou desconforto intenso que alcança um pico em minutos e durante o qual ocorrem quatro (ou mais) dos seguintes sintomas:

(1) Palpitações, coração acelerado, taquicardia.
(2) Sudorese.
(3) Tremores ou abalos.
(4) Sensações de falta de ar ou sufocamento.
(5) Sensações de asfixia.
(6) Dor ou desconforto torácico.
(7) Náusea ou desconforto abdominal.
(8) Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio.
(9) Calafrios ou ondas de calor.
(10) Parestesia (anestesia ou sensações de formigamento).
(11) Desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (sensação de estar distanciando de si mesmo).
(12) Medo de perder o controle ou “enlouquecer”.
(13) Medo de morrer.

Nota: Podem ser vistos sintomas específicos da cultura (p. ex., tinido, dor na nuca, cefaleia, gritos ou choros incontrolável). Esses sintomas não devem contar como um dos quatro sintomas exigidos.

B. Pelo menos um dos ataques foi seguido de um mês (ou mais) de uma ou de ambas as seguintes características:

(1) Apreensão ou preocupação persistente acerca de ataques de pânico adicionais ou sobre suas consequências (p. ex., perder o controle, ter um ataque cardíaco, ”enlouquecer”.
(2) Uma mudança desadaptativa significativa no comportamento relacionada aos ataques (p. ex., comportamentos que têm por finalidade evitar ter ataques de pânico, como a esquiva de exercícios ou situação desconhecidas).

C. A pertubação não é consequência dos efeitos psicológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou de outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo, doença cardiopulmonares). 
D. A pertubação não é mais bem explicada por outro transtorno mental (p. ex., os ataques de pânico não ocorrem apenas em resposta a situação sociais temidas, como no transtorno de ansiedade social; em resposta a objetivos ou situações fóbicas circunscritas, como na fobia específica; em resposta a obsessões, como no transtorno obsessivo-compulsivo; em resposta à evocações de eventos traumáticos, como no transtorno de estresse pós-traumático; ou em resposta à separação de figuras de apego, como no transtorno de ansiedade de separação).

Nota: Os sintomas são apresentados com o propósito de identificação de um ataque de pânico; no entanto, o ataque de pânico não é um transtorno mental e não pode ser codificado. Os ataques de pânico podem ocorrer no contexto de um transtorno de ansiedade, além de outros transtornos mentais (p. ex., transtornos depressivos, transtorno de estresse pós-traumático, transtornos por uso de substâncias) e algumas condições médicas (p. ex., cardíaca, respiratória, vestibular, gastrintestinal). Quando a presença de um de um ataque de pânico é identificada, ela deve ser anotada como um especificador (p. ex., “transtorno de estresse-pós traumático com ataques de pânico”). Para transtornos de pânico, a presença de ataque de pânico está inclusa nos critérios diagnósticos, e o ataque de pânico não é usado como especificador.

Nota: O surto pode ocorrer a partir de um estado calmo ou de um estado ansioso.

  • Despersonalização é a sensação de que a pessoa não é ela mesma, é como se estivesse saindo do próprio corpo.
  • Desrealização é a sensação de que o ambiente está diferente, como se fosse um sonho.

Ataque de Pânico e Transtorno do Pânico são a mesma coisa?

Não, o Transtorno do Pânico é quando ocorrem Ataques de Pânico de forma inesperada e recorrente, seguidos de pelo menos 1 mês de preocupação de ter outro ataque, isto é, a pessoa fica com medo de passar por tudo aquilo de novo, o medo de ter medo.
No Transtorno do Pânico os Ataques de Pânico não são consequência de uma substância química (medicamentosa ou de uso ilícito) bem como, não pode ter sido causado por uma condição médica geral.
Os Ataques de Pânico também não são causados por outras patologias psiquiátricas como Fobia Social, Ansiedade Generalizada, Transtorno Obsessivo Compulsivo, Fobia Específica, Transtorno de Estresse Pós-Traumático ou Transtorno de Ansiedade de Separação.
É comum que muitas pessoas com Transtorno do Pânico procurem especialistas de outras áreas antes de procurar o psiquiatra, pois frequentemente pensam estar com uma cardiopatia por causa dos sintomas dos Ataques de Pânico.
Outra característica das pessoas com Transtorno do Pânico é a preocupação sobre as implicações do ataque ou suas consequências (perceberem os ataques como uma evidência que estão “ficando loucos” ou perdendo o controle, ou de que são emocionalmente fracos, pois percebem que há algo errado e por mais que façam exames nada é detectado.)
No Transtorno do Pânico ocorre uma alteração comportamental significativa relacionada aos ataques.
Abaixo apresentamos os critérios do DSM-V para Transtorno de Pânico.

Critérios Diagnósticos para F40.0 – 300.01 Transtorno de Pânico Sem Agorafobia

  A. (1) ou (2):

(1) Ataques de Pânico recorrentes e inesperados.
(2) Pelo menos um dos ataques foi seguido por 1 mês (ou mais) de uma (ou mais) das seguintes características:

(a) Preocupação persistente acerca de ter ataques adicionais.
(b) Preocupação acerca das implicações do ataque ou suas consequências (por ex., perder o controle, ter um ataque cardíaco, “ficar louco”).
(c) Uma alteração comportamental significativa relacionada aos ataques.

  B. Ausência de Agorafobia. 
  C. Os Ataques de Pânico não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral (por ex., hipertiroidismo).
  D. Os Ataques de Pânico não são melhor explicados por outro transtorno mental, como Fobia Social (por ex., ocorrendo quando da exposição a situações sociais temidas), Fobia Específica (por ex., ocorrendo quando da exposição a uma situação fóbica específica), Transtorno Obsessivo-Compulsivo (por ex., quando da exposição à sujeira, em alguém com uma obsessão de contaminação), Transtorno de Estresse Pós-Traumático (por ex., em resposta a estímulos associados a um estressor severo) ou Transtorno de Ansiedade de Separação (por ex., em resposta a estar afastado do lar ou de parentes queridos).

A. Ansiedade acerca de estar em locais ou situações de onde possa ser difícil (ou embaraçoso) escapar ou onde o auxílio pode não estar disponível, na eventualidade de ter um Ataque de Pânico inesperado ou predisposto pela situação, ou sintomas tipo pânico. Os temores agorafóbicos tipicamente envolvem agrupamentos característicos de situações, que incluem: estar fora de casa desacompanhado; estar em meio a uma multidão ou permanecer em uma fila; estar em uma ponte; viajar de ônibus, trem ou automóvel.
Nota: Considerar o diagnóstico de Fobia Específica, se a esquiva se limita apenas a uma ou algumas situações específicas, ou de Fobia Social, se a esquiva se limita a situações sociais.

B. As situações são evitadas (por ex., viagens são restringidas) ou suportadas com acentuado sofrimento ou com ansiedade acerca de ter um Ataque de Pânico ou sintomas tipo pânico, ou exigem companhia.

C. A ansiedade ou esquiva agorafóbica não é melhor explicada por um outro transtorno mental, como Fobia Social (por ex., a esquiva se limita a situações sociais pelo medo do embaraço),Fobia Específica (por ex., a esquiva se limita a uma única situação, como elevadores),Transtorno Obsessivo-Compulsivo (por ex., esquiva à sujeira, em alguém com uma obsessão de contaminação),Transtorno de Estresse Pós-Traumático (por ex., esquiva de estímulos associados com um estressor severo) ou Transtorno de Ansiedade de Separação (por ex., esquiva a afastar-se do lar ou de parentes).

O que é Agorafobia?

Voltando à Grécia Antiga, lembra do Deus Pã? Pois é, havia um templo dedicado a ele, que estava localizado ao lado da Ágora que era a praça onde o povo se reunia em assembleia, portanto era um local amplo, vindo daí o nome Agorafobia. Em Psiquiatria, este termo pode ser mais bem definido como medo de locais amplos. As preocupações sobre um novo ataque e suas consequências muitas vezes provocam uma mudança no comportamento do sujeito, isto é, ele começa a desenvolver uma estratégia de esquiva (evitação) diagnosticando-se, neste caso, um Transtorno de Pânico Com Agorafobia. A característica essencial da Agorafobia é um medo intenso de estar em locais ou situações das quais o sujeito julga que escapar poderia ser difícil (ou embaraçoso) ou nas quais o auxílio poderia não estar disponível na eventualidade de ter um Ataque de Pânico. Esta ansiedade acaba “contaminando” várias áreas da vida da pessoa, tais como ficar só em sua própria casa, ou viajar desacompanhado, ou frequentar shopping center, supermercado, etc. Alguns indivíduos, às custas de muito esforço são capazes de se expor às situações temidas, mas o fazem com considerável temor. Algumas vezes a pessoa sente-se mais apta a enfrentar a situação temida quando acompanhado por alguém de sua confiança. Esta esquiva pode prejudicar o funcionamento sócio-ocupacional do indivíduo, afetando inclusive o convívio familiar e com os amigos.

Como diagnosticar a Agorafobia?

Codificar o transtorno específico no qual ocorre a Agorafobia (por ex., F40.01 – 300.21 Transtorno de Pânico Com Agorafobia ou F40.0 – 300.22 Agorafobia Sem História de Transtorno de Pânico).
Abaixo os critérios diagnósticos da American Psychiatric Association  para Transtorno do Pânico com Agorafobia:

 Critérios Diagnósticos para F40.01 – 300.21 Transtorno de Pânico Com Agorafobia
A. (1) e (2):

(1) Ataques de Pânico recorrentes e inesperados.
(2) Pelo menos um dos ataques foi seguido por 1 mês (ou mais) de uma (ou mais) das seguintes características:

(a) Preocupação persistente acerca de ter ataques adicionais.
(b) Preocupação acerca das implicações do ataque ou suas consequências (por ex., perder o controle, ter um ataque cardíaco, “ficar louco”)
(c) Uma alteração comportamental significativa relacionada aos ataques.

B. Presença de Agorafobia.
C. Os Ataques de Pânico não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral (por ex., hipertiroidismo).
D. Os Ataques de Pânico não são melhor explicados por outro transtorno mental, como Fobia Social (por ex., ocorrendo quando da exposição a situações sociais temidas), Fobia Específica (por ex., quando da exposição a uma situação fóbica específica), Transtorno Obsessivo-Compulsivo (quando da exposição à sujeira, em alguém com uma obsessão de contaminação), Transtorno de Estresse Pós-Traumático (por ex., em resposta a estímulos associados a um estressor severo) ou Transtorno de Ansiedade de Separação (por ex., em resposta a estar afastado do lar ou de parentes queridos).

Quantas pessoas são afetadas?

A prevalência do Transtorno de Pânico durante a vida varia entre 1,5 e 3,5% , o Transtorno de Pânico sem Agorafobia é mais prevalente do que o Transtorno de Pânico com Agorafobia. O Transtorno do Pânico é mais comum no sexo feminino do que no masculino.
Os parentes biológicos em primeiro grau de indivíduos com Transtorno de Pânico têm uma chance quatro a sete vezes maior de desenvolverem Transtorno de Pânico e estudos com gêmeos indicam uma contribuição genética para o desenvolvimento do Transtorno de Pânico.

Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Referência Rápida aos critérios diagnósticos do DSM-5. Porto Alegre: ARTMED; 2014.

Se você chegou até aqui é porque você sabe que precisa de um suporte.

Agende sua consulta agora