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A dependência química é um problema do nosso tempo… É bem provável que você já tenha ouvido muitas vezes frases deste tipo, que os problemas com drogas são característicos das sociedades industrializadas etc. Basta dar uma olhada na história para vermos que o uso de drogas não é exclusividade da nossa época. No Antigo Testamento há o relato da intoxicação alcoólica de Noé; o álcool também era utilizado no culto a Dionísio; a nicotina era utilizada pelos povos pré-colombianos, o uso de ópio é mencionado na Odisseia, desta forma o uso de substâncias psicoativas acompanhou a humanidade.
Quando uma pessoa usa uma droga psicoativa e o efeito por ela produzido é de alguma forma agradável, esse efeito adquire para aquela pessoa o caráter de uma recompensa. Sabe-se que os comportamentos que são reforçados por uma recompensa tendem a ser repetidos e aprendidos. Estes comportamentos repetidos tendem a fixar não só o comportamento que conduz à recompensa, mas também estímulos, sensações e situações indiferentes eventualmente associados a esse comportamento. Os usuários de drogas referem, por exemplo, que ao ver certos lugares ou pessoas, ouvir certas músicas, etc., a vontade de usar sua droga preferencial é desencadeada, isto é, estes estímulos funcionam como pistas ou gatilhos.
A dependência química, do ponto de vista farmacológico, é um estado fisiológico de neuroadaptação produzido pela administração repetida da droga.
Abaixo mostramos a representação do Sistema Cerebral de Recompensa, que é o local onde as drogas de abuso agem no cérebro.
Drogas de abuso
Se formos avaliar a origem da palavra droga, veremos que tem origem em droog (palavra do holandês antigo) que significa folha seca, pois antigamente a maior parte dos medicamentos provinha de vegetais.
As drogas de abuso têm propriedades de reforço, isto é, a tendência de levar a repetida autoadministração, o que é demonstrado também em animais de laboratório. Estas drogas levam a uma intensa liberação de dopamina. Quando este efeito desaparece, os receptores cerebrais necessitam de mais dopamina, levando o indivíduo a buscar mais droga. Deste modo acredita-se que a via final comum de reforço e da recompensa no cérebro seja a via dopaminérgica, sendo considerada o “centro do prazer” do cérebro e a dopamina o “neurotransmissor do prazer”.
Além do uso agudo de drogas modificar o funcionamento cerebral de forma crítica, momentânea e aguda, o consumo prolongado pode causar alterações bastante abrangentes na função cerebral, alterações estas que persistem por muito tempo depois da pessoa parar com o uso da substância.
O que é tolerância?
É quando o indivíduo fica “forte” para a substância, isto é, quando a dose habitual da droga produz um efeito diminuído, levando o indivíduo a usar doses maiores para produzir o efeito desejado. Revisando a história do uso de substância, do álcool, por exemplo, observa-se que os primeiros usos costumam ser em doses menores e, após algum tempo de uso as pessoas podem suportar doses de etanol muito maiores do que antes. O mesmo acontece com a nicotina, a pessoa não inicia o tabagismo fumando uma carteira por dia, inicia lentamente até que chega a um maço por dia. O grau em que a tolerância se desenvolve varia muito entre as substâncias.
O que é abstinência?
A abstinência acontece quando o uso da substância é interrompido ou diminuído subitamente, causando reações psicológicas e/ou fisiológicas. Os sintomas de abstinência variam conforme a classe de substância. A abstinência do álcool, por exemplo, apresenta sintomas como náusea, vômito, tremores, podendo evoluir para alterações de pressão arterial, frequência cardíaca, alucinações, convulsões e morte. É importante ressaltar que a abstinência não é necessária para o diagnóstico de dependência de álcool ou qualquer outra substância, é apenas um dos critérios considerados.
O que é fissura?
A fissura, também conhecida como “craving” é um desejo intenso de consumir uma determinada substância (Beck et al., 1993; Kozlowski et al., 1996; Sayette et al., 2000) que pode ocorrer tanto na fase de consumo, como no início da abstinência ou após um longo tempo sem utilizar a droga (Araujo, 2006; Marques e Seibel, 2001).
PREVENÇÃO AO USO DE DROGAS
Como as taxas de recaída são muito altas no tratamento de dependentes químicos, a prevenção ainda é a melhor solução. Existem algumas estratégias que os pais podem utilizar com esse objetivo.
Um problema que exige atenção é o uso de drogas por adolescentes, pois como é sabido, algumas das abordagens terapêuticas utilizadas com adultos são inadequadas para esta população, sendo necessário utilizar uma linguagem condizente para sensibilizá-las; uma destas formas é o uso de jogos como o RPG DESAFIOS, criado pela psicóloga Renata Brasil Araujo e ilustrado por Sérgio Dório. O RPG DESAFIOS é um Role Playing Game terapêutico, com base na Terapia Cognitivo-comportamental que pode ser utilizado tanto na prevenção do uso de drogas quanto no tratamento de adolescentes com problemas nesta área. Existem personagens com características comuns encontradas em adolescentes e que precisam enfrentar desafios também típicos desta fase da vida, como problemas na escola, namoro, familiares etc. Entre as estratégias oferecidas pelo jogo existem algumas “poções mágicas” que resolvem alguns problemas rapidamente, mas apresentam comprometimento em várias áreas da vida do sujeito. As estratégias, personagens e desafios podem ser adaptadas (criadas) pelo terapeuta para adequá-las ao adolescente que está jogando. Pode ser utilizado em grupo ou individualmente.
Para conhecer melhor este recurso terapêutico clique no link:
Assista clicando no link ao lado, a entrevista “ Psicóloga fala como prevenir o consumo de crack” com a Psicóloga Renata Brasil Araujo, uma das autoras do PsicMed, que foi apresentada na RBS TV, no Programa Bom Dia Rio Grande no dia 29/05/2009.
No dia 30/03/2010, em entrevista também na RBS TV, só que no programa Bom Dia Rio Grande, a Psicóloga Renata Brasil Araujo comenta a respeito do RPG Desafios no Lançamento da 2ª fase da campanha Crack, Nem Pensar
Tratamento:
Um dos tratamentos preconizados é a Terapia Cognitivo-Comportamental, que pode ser utilizada combinada com psicofármacos.
Referências:
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Referência Rápida aos critérios diagnósticos do DSM-5. Porto Alegre: ARTMED; 2014.
KAPLAN H, SADOCK B, GREBB S S.(1997). In: KAPLAN H, SADOCK B, GREBB S. Compêndio de Psiquiatria. 7a ed. Porto Alegre: Artes Médicas.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE.(1993). Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10: Descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas.